há 2 semanas atrás, eu era olhado de lado nos transportes públicos de Madrid por andar de máscara. quando voltei para Portugal e apanhei o comboio Oriente-Campanhã, de lado fui olhado novamente e até zombado no metro de Lisboa por duas miúdas e o filho de uma delas. quem me dera que, por esta hora, o tolo tivesse, de facto, sido eu. de Madrid parece que só trouxe mesmo estas pérolas compradas no Rastro - são elas que ouvirei nos próximos dias, assim como os meus vizinhos, quando for hora de abrirmos as janelas e sorrirmos, gritarmos, dançarmos. diz-se demasiadas vezes que "a cultura não salva". mas salva, claro, e não é de agora. sempre salvou. na escravatura da antiguidade e dos modernos (vide "spirituals", "work songs", blues, gospel), nas quedas e nos reergueres dos impérios, nas guerras mais ou menos mundiais, na doença e nas catástrofes naturais. as palavras, o som, uma imagem, uma fotografia num absoluto momento de solidão e incerteza vivido num espaço exíguo por duas ou três pessoas são um sopro de vitalidade, e não só metaforicamente: ocupam-nos a cabeça, activam-nos o cérebro, re-conectam sensações e emoções temporariamente anestesiadas. que nunca mais se diga que a Last night a DJ saved my life dos Indeep não é uma canção de resistência
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