Palavras de Karl Popper:
O que é que eu considero como características de uma sociedade aberta? Gostaria de apontar dois aspectos: primeiro, que seja possível a discussão livre numa sociedade e que esta discussão tenha influência sobre a política. Segundo, que existam instituições para a protecção da liberdade e dos mais fracos. (...)
O Estado protege os seus cidadãos contra a violência bruta, mediante instituições jurídicas e sociais, e pode também protegê-las contra os abusos por parte da violência económica. Tudo isto já se faz actualmente e pode ser melhorado.
Temos simplesmente de construir instituições sociais que protegam o indivíduo economicamente débil contra o forte, isto é, instituições destinadas à protecção contra a exploração. O poder político pode controlar o poder económico. Os marxistas menosprezam as possibilidades da política e, particularmente, daquilo a que chamam de "liberdade formal".
Sublinho, portanto, o papel nuclear das insituições políticas no que diz respeito à reforma social. (...)
(...) as sociedades abertas não são muito estáveis, justamente porque estão expostas à discussão crítica. As ditaduras são mais estáveis e, naturalmente, ainda mais as utopias, que são sempre apresentadas como estáticas.
(...)
Considero portanto que o maior valor numa democracia reside na possibilidade da livre disucssão racional e na influência desta discussão crítica sobre a política. Nesse ponto, encontro-me em franca oposição com os que acreditam na violência, particularmente os fascistas. Tanto os marxistas revolucionários como os neomarxistas afirmam que não existe discussão "objectiva": antes de se entrar em diálogo com alguém, é preciso saber que ele tem uma posição marxista revolucionária relativamente à sociedade, isto é, que recusa radicalmente a chamada sociedade "capitalista" actual. Isto significa que se torna impossível uma discussão sobre os problemas fundamentais.
(...) Lembremos, contudo, o significado desta negação. Equivale à repressão de toda e qualquer opsição, quando se chega ao poder. Equivale à rejeição da sociedade aberta, à rejeição da liberdade e à adopção de uma filosofia de violência.
(...)
sobre a dita "sociedade aberta" (construção do próprio Popper):
Penso que é tanto realidade como ideal. Existem efectivamente diferentes graus de abertura. Em determinada democracia, a sociedade está mais madura, mais desenvolvida e mais aberta do que noutra democracia qualquer. O seu estado de maior ou menor perfeição depende de diferentes factores: da sua História, das suas tradições, das instituições políticas, dos métodos educativos e, finalmente, dos seres humanos que são aqueles que tornam vivas as instituições. (...) O que é necessário é trabalhar para uma sociedade mais sensata, na qual os conflitos sejam resolvidos de forma cada vez mais racional. Digo "mais sensata"! - porque não existe nenhuma sociedade sensata, mas há sempre uma sociedade mais sensata do que a que já existe, e que devemos portanto ambicionar. (...)
in Revolução ou Reforma? uma confrontação entre Herbert Marcuse e Karl Popper, entrevista guiada por Franz Starck
O único apontamento que faço é o tom demasiado situacionista, para não dizer fatalista, com que Popper fala de indivíduos economicamente débeis e fortes. Mas pode também ser uma interpretação errada da minha parte.
Sem comentários:
Enviar um comentário