segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

só a pensar

Estava sentado ao seu lado. Curvado, meneava a cabeça colericamente, cerrava e distendia os punhos com frémito, os músculos retesados, a cabeça em negação como quando nos recusamos a aceitar algo de trágico. De repente, como uma criança que deixa de sentir a mão da mãe na sua, começou a chorar, lágrimas de pedra abafadas por suspiros contidos.
Até ali, testava a elasticidade do meu individualismo autista - que não era tão autista assim, porque oferecer ajuda é muitas vezes lido como o reconhecimento de fraqueza, razão pela qual pensamos, medrosamente, em evitar o embaraço alheio. Não aguentei mais, coloquei a música em pause e perguntei
precisa de ajuda?
O homem, supreendido, virou a cabeça na minha direcção e, com os olhos muito abertos, francos, disse abruptamente
não, não, estou só a pensar

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