Um aspecto curioso em La Peau Douce (1964) é o facto (admito que não racionalizado pelo Truffaut - eu disse "curioso", não "importante" ou "revelador") de o primeiro acto de adultério propriamente dito, cometido por Pierre, francês, ter lugar em Portugal. Isto em 1964: estamos a falar de uma época, portanto, em que a França democrática, livre e tolerante nos costumes (com o Maio de 68 mesmo ali à portinha), contrasta, radicalmente, com o Portugal fascizóide e ditatorial (eu sei que uma coisa normalmente implica a outra, mas é para deixar os pontos nos i's), em que a moral conservadora católica é quem mais ordena. É, pois, num lugar onde o matrimónio era, à época, quase uma raison d'état, que o acto de libertinagem, de transgressão, tem lugar, e não em França, essa terra de perdição. É curioso, como disse.
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Um aspecto curioso em La Peau Douce (1964) é o facto (admito que não racionalizado pelo Truffaut - eu disse "curioso", não "importante" ou "revelador") de o primeiro acto de adultério propriamente dito, cometido por Pierre, francês, ter lugar em Portugal. Isto em 1964: estamos a falar de uma época, portanto, em que a França democrática, livre e tolerante nos costumes (com o Maio de 68 mesmo ali à portinha), contrasta, radicalmente, com o Portugal fascizóide e ditatorial (eu sei que uma coisa normalmente implica a outra, mas é para deixar os pontos nos i's), em que a moral conservadora católica é quem mais ordena. É, pois, num lugar onde o matrimónio era, à época, quase uma raison d'état, que o acto de libertinagem, de transgressão, tem lugar, e não em França, essa terra de perdição. É curioso, como disse.
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