sábado, 11 de junho de 2016

Primavera

O festival Primavera é um dos lugares mais estranhos onde já tive a oportunidade de estar. Betos, "hipsters", turistas, melómanos, gente que liga tanto a música como eu a comida saudável, crianças a correr e a comer gelados, pais e avós a falar dos filhos e netos e a limparem-lhes o gelado do queixo, adolescentes e estudantes universitários, enormes casas com uma inscrição gigante a dizer "TABACO" (e a impingirem Marlboro; ainda perguntei: "Mas a senhora ganha alguma comissão?" Disse-me que não e eu mantive-me fiel ao Chesterfield), um balcão enorme que oferece flores "à Woodstock" para as meninas colocarem na cabeça, barracas de uma marca de cerveja e barracas com a inscrição "WINE HOUSE", um posto de turismo municipal, barraquinhas de todas e mais algumas tascas do Porto ("very typical, very typical") lado a lado com outros habitués mais industriais destas andanças, casas de sushi, lojas FNAC, lojas de telecomunicações com "passatempos".  Ah, também há a musica (muito boa e "alternativa", consta) e os concertos: é como estar numa discoteca ao livre, com a particularidade de as conversas dos outros, inaudíveis numa discoteca, se fazerem ouvir desavergonhadamente pelo meio dos concertos. Dir-me-ão que já é assim há muito tempo com outros festivais, mas esses, pelo menos, assumem-no sem complexos e dispensam a capa do "alternativo", do "ecológico" e não sei o que mais.

É a utopia das utopias, o nada dos nadas. Um lugar que não existe, um não-lugar. Uma Disneyland barbuda e de saquinho de pano ao ombro. Viva a pós-modernidade. Façam o favor de ser felizes.

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