sábado, 20 de janeiro de 2018

olha... lá vai a Paulinha

e
os homens alinhados de cara fechada
o caixão
entra no elevador

foi a primeira vez que te ouvi a voz a soçobrar.
devias estar com uns quantos comprimidos em
cima
falavas devagar
todo de preto, bombazine, pele e algodão, fibra
texturas que eu estranho, desculpa reparei nestas coisas
uns queixam-se de que estão sempre a pensar

    estou sempre a ver

mas disseste olha vamos dar um mergulho a Moledo e eu respondi que sim o meu irmão também

depois disse-te para irmos comer uns cachorrinhos ao lado de minha casa
sim
já tinhas ouvido falar, vou a pé lá ter

lá fora.

a minha Mãe quer mostrar-me o andar. pelo caminho, passamos por uma banca de rua com fumados, nozes, figos, hortaliças, coisas assim, é a senhora que cria isto tudo ou compra
crio, senhora, leve para si e para o seu marido
    marido!
e rimo-nos ou a senhora me acha nova ou o meu filho é que parece velho

cria mesmo? olhe que eu sei
crio, senhora
Mostre-me as suas mãos!

e ela mostrou-te as mãos, Mãe. tu olhaste-as, tocaste nelas, viste as mãos da Brazilina, tenho a certeza. Mãe, quase que chorava nesse momento, mas como estou sempre a ver em vez de pensar, não chorei, fotografei

e levaste um saco
que senhora simpática ouvi eu
lá longe

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