Perlès refere que "quando digo que Henry Miller é um santo não quer dizer, é claro, que ele seja um santo unilateral. Tem um poderoso e perturbador senso de humor. Em rigor, para ter senso de humor um homem deve ser, antes de mais, humano, talvez com uma ligeira tendência para a batota. E a sua humildade, ou antes, humilhação, é resultado da sabedoria do coração. É esta sabedoria que lhe permite levantar-se ou cair ao nivel a que a situação exige. E ele pode levantar-se ou cair como quiser, pois a sua integridade não é afectada - porque ele cai e ergue-se dentro de si mesmo". O humor sempre foi uma faceta mal compreendida e Kenneth Rexroth compartiha desta perplexidade ao dizer que é difícil perceber "quando é que está a ser irónico ou quando está a ser ingénuo (...)".(...)
A mesma sensação por parte de Georges Simenon: "Miller é um poeta. A sua obra é um todo, uma espécie de canção de gesta, a canção de gesta da nossa época". E para resumir, nada melhor do que as palavras de Lawrence Durrell: "Miller preferiu envergonhar o diabo e dizer a verdade, e a sua obra é, neste campo, uma das mais corajosas, ricas e consequentes aventuras desde Jean-Jacques Rousseau. Pela sua própria natureza vai além dos estreitos limites do que a maioria das pesssoas considera permitido. As regras do gosto, as ideias convencionais de beleza e a propriedade terão de sr renovadas à luz do seu objectivo central: a busca da verdade. Constantemente o resultado é chocante, aterrador, mas o certo é que a verdade sempre foi um oráculo orgulhoso e não queixoso. Mas creio que ninguém poderá ler a sua obra sem surpresa ou maravilhosamente, e finalmente, sem gratidão. Atinge directamente a essência".
Miller tinha consciência dos mal-entendidos que se geraram em torno da obra feita a partir do magma mais irredutível de cada ser humano: o sofrimento, a capacidade de renascer, a capacidade de sobreviência.
(...)
[Miller foi] Um homem que tomou como sua a frase de Flaubert: "Viver como um cordeiro, desde que se possa escrever como um leão".
in LER (Primavera 1993, Nº 22), José Guardado Moreira
(negritos meus)
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