Naqueles momentos, a parte da frente do carro assemelhava-se-lhes a um pequeno mundo.
Dada a vergonha entre ambos, conservavam os os olhares em frente, no macadame repetidamente ultrapassado. O seu campo de visão periférico era muito reduzido: apenas vislumbravam, em baixo, um pouco ao lado, as pernas do outro. E as mãos. E quando já não suportavam viajar (ou viver?) naquele pequeno espaço sem se tocarem, davam as mãos. Os olhares relaxavam. Os músculos das pernas desprendiam-se.
Mas as mãos não eram suficientes. E como as pernas continuaram sempre separadas, as mãos acabaram por se separar também.
Eu via tudo, sentado na parte de trás, de braços esticados e rosto sério. As pernas, as malditas pernas...
1 comentário:
oh... quando as mãos se miram pelo canto do olho, se vêm as pernas e dentro se sente um arrepio que aquece e depois arrefece, que faz quase partir a espinha, o estômago em mil atropelos, parece que vai sufocar, mas as palavras não saem. e os gestos bloqueiam. as mãos acabam apenas por repousar ao lado das pernas e os olhos fecham para se conseguir voltar respirar de novo : era o desejo.
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