terça-feira, 30 de outubro de 2018

fantasmas, fascismos

 








(Glória, 1999, Manuela Viegas)


Sim, os fantasmas existem - infelizmente, não apenas os dos filmes, também os do fascismo. Que, afinal, não era só o histérico "fássismo" que alguns alardeavam e relativamente ao qual outros zombavam - e atenção que estes últimos são os mesmos que, agora, já se estão a posicionar estrategicamente. Assunção Cristas, Jaime Nogueira Pinto, Paulo Portas.
 
O mundo continua cheio de coisas lindas, como este filme - a partir de agora só vamos ter que lutar acrescidamente para que elas continuem a existir. Sem querer impor nada a absolutamente alma alguma (tenho alergia a superioridades morais, de esquerda ou de direita, dá-me igual), peço, a quem entender por bem, que pondere este apelo: o discurso de ódio está definitivamente a instalar-se porque preconceitos e ideias feitas até aqui adormecidos enquanto a democracia funcionou de forma mais ou menos normal (com todos os defeitos, e são muitos, que os regimes e governos dela aproveitaram ou produziram) estão agora a tomar conta de muitos em virtude de um clima tóxico que conjuga decepção (muitíssimo legítima), frustração (idem), ignorância, fake news e aproveitamento estratégico por parte de políticos populistas. Uma das formas possíveis e profícuas de combater este fenómeno (há outras, evidentemente, nomeadamente institucionais e não-institucionais, mas que não invalidam esta) é discuti-lo no dia-a-dia, nas nossas vidas quotidianas. Eu próprio sinto a necessidade (como, provavelmente, muitos outros), depois de uma adolescência/juventude em que me lançava a discutir por dá-cá-aquela-palha e de o ter deixado em absoluto de fazer por falta de paciência e sobretudo por necessidade de re-avaliação das minhas próprias posições sobre alguns assuntos, de voltar a debater seriamente, taco-a-taco, com quem lança, na rua, no café, no trabalho, ideias feitas sem pensar no que elas realmente significam e projectam. Fica o meu apelo, tão insignificante quanto sentido, para que, nos próximos tempos, sempre que presenciarem alguém dos vossos círculos a manifestar uma posição homofóbica, racista, xenófoba ou afim, o contrariem e discutam saudavelmente com ele, desmontando as falácias de raciocínio que levam a conclusões perigosíssimas. É, insisto, umas das formas possíveis – que, certamente, dará muito trabalho e exigirá paciência – de travarmos uma tragédia cujo sufixo “anunciada” depende de nós. Se, por outro lado, acharem que o que digo faz algum sentido, por favor sintam-se à vontade para o re-passar para outros grupos/amigos, ou escrevam-no pelas vossas palavras, tanto dá. 

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