domingo, 28 de outubro de 2018

tás a ver





entre outras razões pelas quais nunca esqueço o brasil da duas vezes em que lá estive (e apenas no rio de janeiro, pelo que a minha experiência é extraordinariamente pobre e redutora), uma é tão simples quanto isto: por ocasião da segunda ida, foi o único lugar, até hoje, em que fui “minoria” num grupo maioritariamente negro/mulato e homossexual. para um miúdo que nasceu e cresceu numa europa caucasiana e heterossexual, e numa cidade em que, até há pouco tempo, a presença de comunidades dos palop ou restante áfrica era tão reduzida (mil beijos, meus queridos lídia e celso), uma tal conjuntura não é - ou, felizmente, não era, passado – assim tão frequente de acontecer. essa semana no brasil foi também uma das mais felizes nos meus últimos anos. portanto, oupa, brasil, vamos lá virar esta porcaria. com a certeza de que, independentemente do que o dia de hoje ditar, teremos que arregaçar as mangas nos próximos tempos - no brasil, em portugal, na europa. não passarão – mas não passarão mesmo. haddad, democracia, brasil, outubro 2018.

"Tás a ver? A linha do horizonte
A levitar, a evitar que o céu se desmonte?
Foi seguindo essa linha que notei
Que o mar na verdade é uma ponte
Atravessei-a e fui a outros litorais
E no começo eu reparei nas diferenças
Mas com o tempo eu percebi
E cada vez percebo mais como as vidas são iguais
Muito mais do que se pensa, mudam as caras
Mas todas podem ter as mesmas expressões
Mudam as línguas, mas todas têm
Suas palavras carinhosas e os seus calões
As orações e os deuses também variam
Mas o alívio que eles trazem vêm do mesmo lugar
Mudam os olhos e tudo o que eles olham
Mas quando olham
Todos olham com o mesmo olhar"
(LP "Cavaleiro Andante", 2005)

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