As pessoas costumam dizer que "não há coincidências" para sublinhar o que de belo e insondável, quase mágico, está subjacente a alguns factos aleatórios das nossas vidas, mas sobretudo para, logo a seguir, como que por medo da dimensão misteriosa da vida, tentarem domesticar essa aleatoriedade. Então, dizem: não, esse conjunto de aparentes coincidências possui um "significado"; se os factos assim ocorreram, então é porque fazem "sentido" (têm que fazer sentido).
Isso impede-as de verem que a graça (num sentido quase teológico, "jansenista") está, precisamente, na afirmação oposta, de verem que o encanto que o inexplicável suscita em nós depende do reconhecimento do acaso como um elemento absoluto, indomesticável: na verdade, há coincidências, e ainda bem que assim é.
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