O senhor Júlio, o dono do café, não consegue
evitar um certo olhar de censura sempre que tomo o pequeno almoço chegado de
uma noitada qualquer. O senhor Júlio está convencido de que eu não reparo no
facto de o seu olhar ser, nessas alturas, diferente daquele que me reserva
durante a semana, mas eu reparo. Não o levo a mal, no entanto, e sei que em
breve estaremos novamente a falar sobre raspadinhas, sobre os jornais diários
que não lhe compensa vender (é pena, porque eu seria um cliente fiel, digo-lhe
sempre), sobre os assaltos que aumentaram desde que a polícia da esquina se
transformou numa farmácia. A menina Luísa, que tem idade para ser minha mãe,
chega já estou eu a acabar o croissant com fiambre. Chega mal-humorada, claro,
afinal de contas, é sábado e são horas de estar no seu terceiro sono. Levo-lhe a
loiça ao balcão e ela desfaz-se logo num sorriso, quase como que se
desculpando. Um descafeinado, menina Luísa, por favor. Descafeinado? Ah, sim,
está bem, é para ir dormir, não é? É. Pago e despeço-me. Hei-de acordar mais tarde, subir as
persianas e vê-la a sair do café já sem a farda, o resto do sábado para ela. Abro
a janela: Oh menina! A menina a sair e eu a acordar! Ela, em passo rápido, sorri e acena, É
verdade, já me vou, tenha um bom dia!
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