A Menina Rute da churrascaria ao lado de minha casa já não é a Menina Rute.
Começou por me pedir para não tratá-la por Menina, ao que eu obviamente acedi: não quero confusões com ninguém, muito menos com quem me põe picante (ou outro veneno) no frango. Menina porquê?, não tenho sessenta anos, alvitrou ela, inconscientemente formulando um dos mais engraçados paradoxos de que me lembro. E não tem, de facto, tem quase a minha idade a Menina Rute, é de Vila Real, terra do meu pai, que se meteu com ela logo da primeira vez que lá fomos, ainda eu estava em mudanças. Então como lhe chamo, homessa pelo nome, como é que haveria de me chamar. Está bem, Rute; e Rute ficou. Uns dias depois, peço uma coca-cola gelada para afogar a noitada anterior e ela diz-me: deixe lá essa coisa de me tratar por você. Deixo?, está bem, Menina, vou deixar, então. Não é Menina, é Rute, já disse! Sim, tem razão: Rute!, esqueci-me.
Há dias, cheguei passava já da hora do fecho da cozinha, e ela, lá de dentro e com olhar garoto, atira: o senhor faz de propósito para chegar a estas lindas horas, não faz? Continuei a andar como se não me fosse dirigido, ignorando-a, e desci para o andar de baixo. Passado uns segundos, ela vem ter comigo com ar ofendido, a lista na mão e uma toalha na outra, e diz-me: não me ouviu a falar para o senhor?
O Senhor está no céu, Rute, ou já te esqueceste? Uma salsicha crioula e uma cola só com gelo, sem limão, trazes-me, por favor?
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