Crystal Lake (2016, Jennifer Reeder) é um dos filmes exibidos hoje no Curtas Vila Conde, na secção Competição Internacional. A minha entrada para o catálogo do festival:
"A
demanda pela self-preservation, ouve-se a certa altura, é um “act of political warfare”. É uma tirada que sintetiza a
própria demanda de Jennifer Reeder – presente no Curtas 2015 com Sangue Sob a Pele – neste filme, no sentido em que
a “luta pessoal” caminha par e passo com a “luta política” (individual e
colectivo como faces da mesma moeda), no caso, a afirmação da mulher e a
rejeição do lugar de “invisibilidade” que, historicamente, a sociedade sempre
lhe reservou, seja nas posições mais tradicionais (família, poder político,
poder económico), seja na circunstância tão simples como a de andar de skate.
Não é por acaso que o dedo que esta menina magoa a andar de skate seja o middle finger, modo tão simbólico quanto
insubmisso de fazer um “pirete” ao machismo e sua normatização em sociedade,
aqui expresso também em termos plásticos (o skatepark reservado à luz do dia para os
homens e à noite, na “clandestinidade”, para as raparigas).
A sublimação colectiva
desse pirete “individual” opera-se com a rebelião feminist as fuck (como se lê na t-shirt de uma das
miúdas) que, “ocupando” um skatepark (gesto político por excelência, esse o de “ocupar” um
território), servirá, bem assim, de resolução interior para as carências afectivas
da personagem principal. No retrato dessa viagem de auto-descoberta e superação
que é o crescimento, Reeder desafia, ainda, o olhar ocidental convencional,
desde logo na compatibilização que estabelece entre a afirmação feminista e o
uso do hijab".
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