Cheguei há pouco de um concerto maravilhoso na Casa das Artes de Famalicão. A mestria coube ao Tito Paris.
Até estava frio lá fora; até chovia lá fora. Cá dentro, o som era de festa e calor. Era de África. De Cabo-Verde.
Deu para tudo. Para chamar um percussioista-ao-palco-que-afinal-não-era-percussionista-mas-apenas-um-aficionado-de-música; para os espectadores (sobretudo mulheres com o diabo no corpo) irem dançar para o palco; para as pessoas não conterem a energia e se levantarem das cadeiras e dançar, ali mesmo, sem mais nem menos.
Bateu-se palmas excitadas, por tudo e por nada. Gritou-se, urrou-se. O Tito fazia e dava espectáculo. Falou em crioulo com os cabo-verdianos presentes num tu-cá-tu-lá arrepiante. Pediu paz.
Saíu do palco e voltou para se sentar ao piano e cantar a Sodade. Brincou com os seus companheiros de banda.
De cada vez que a morna trepava pelo corpo, os presentes olhavam em redor à espera do primeiro corajoso que se levantasse e começasse a dançar. Aí, levantava-se outro. E outro. Até que jovens e não-tão-jovens, mulheres e homens, dançavam. Celebravam. Sorriam de orelha a orelha. O Tito e a banda lá ao fundo no palco; os dançarinos improvisados cá em cima. A barreira era meramente física. E assim era porque se tratou daquilo a que se pode chamar justamente um Concerto. Um momento de celebração entre o ouvido e os ouvintes em que a alegria da música junta as pessoas num só espaço, num só sentimento.
Volta, Tito... preciso de dançar mais vezes!
Dança ma mi Crouila
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
domingo, 30 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Lembrei-me agora mesmo, como um raio imediato e intensíssimo, de uma cena do filme La Meglio Gioventu do qual já falei por aqui.
Lembrei-me porque estava a ouvir um disco do Tito Paris e começou a tocar a intemporal Sodade. No filme é cantada pela também ela intemporal Cesária Évora.
Recordei então o momento pujante onde o sol toca a terra e o amor nasce. A saudade arranha a alma. É quando esta mulher tão simples quanto líndissima se despede de Nicola. Ela está no porto; ele no navio. Ambos acenam, sorridentes e condescendentes com a suspeita de Amor que começa a crescer entre os dois. Por esta altura, a camera fica desfocada sobre Domenica. Então apenas conseguimos observar um corpo em pé, de farta cabeleira e com uma mão no ar. O sol banhando-lhe o corpo. O mar mesmo em frente e a espuma num vai-vém eterno e... saudoso. A música já toca e o nosso espírito arrepia-se. O sol ilumina a música; a música faz o sol dançar. O mar marca a distância. Que não é definitiva. Que é navegável como qualquer onda. E ela, e o seu corpo místico, ambos continuam lá. À espera.
O navio afasta-se. O corpo imóvel, perfeitamente imóvel. Por mais desfocado e longínquo, ele está lá. Como o sol e a música qe fecundam languidamente o fruto do Amor.
O meu respeito para com o Amor é infinito, metafísico, indomável... é grande, porra, é tão grande!
Abraça-me por favor...!
Lembrei-me porque estava a ouvir um disco do Tito Paris e começou a tocar a intemporal Sodade. No filme é cantada pela também ela intemporal Cesária Évora.
Recordei então o momento pujante onde o sol toca a terra e o amor nasce. A saudade arranha a alma. É quando esta mulher tão simples quanto líndissima se despede de Nicola. Ela está no porto; ele no navio. Ambos acenam, sorridentes e condescendentes com a suspeita de Amor que começa a crescer entre os dois. Por esta altura, a camera fica desfocada sobre Domenica. Então apenas conseguimos observar um corpo em pé, de farta cabeleira e com uma mão no ar. O sol banhando-lhe o corpo. O mar mesmo em frente e a espuma num vai-vém eterno e... saudoso. A música já toca e o nosso espírito arrepia-se. O sol ilumina a música; a música faz o sol dançar. O mar marca a distância. Que não é definitiva. Que é navegável como qualquer onda. E ela, e o seu corpo místico, ambos continuam lá. À espera.
O navio afasta-se. O corpo imóvel, perfeitamente imóvel. Por mais desfocado e longínquo, ele está lá. Como o sol e a música qe fecundam languidamente o fruto do Amor.
O meu respeito para com o Amor é infinito, metafísico, indomável... é grande, porra, é tão grande!
Abraça-me por favor...!
domingo, 23 de novembro de 2008
revolução a cores
Passeava eu em Barcelona rumo ao Parque Guel quando me deparei com este edifício e pensei para mim: mais um exemplo marado de arte urbana contemporânea.
Quando os meus olhos se dirigiram um pouco mais para baixo é que percebi que não, que não era mais uma dessas peças freaky-nice-art.
Eram sim tiros de tinta, provavelmente de uma paintball, disparados em forma de protesto:
Isto tem muita força...
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Alguns apontamentos de um senhor que gostei muito de ouvir
A propósito do plano Filosofia e Ciências empíricas:
Todos os níveis da realidade têm um Direito enquanto metáfora. É que em todos os níveis, todos, há regulação, coordenação e sujeição.
As normas produzem sociedades. Mas produzem também indivíduos. Quanto à segunda parte, interrogo-me: determinismo (aqui com uma clara carga negativa) ou realismo inexorável?
De Kant retiramos, entre outras, uma ideia de que em cada Pessoa reside um direito da Humanidade. (Talvez daqui, compreenda agora, o Verde no homem que Leonardo Coimbra atribuiu ao pensamento kantiano).
Dos nomes mais bonitos que já chamaram à Filosofia: o caminho de iluminação de um ponto fixo. E o que é o ponto fixo? 1) Uma lei oculta que explica a fenomenologia, a vida universal; 2) o próprio Homem como signo, como sinal que recebe significações do Direito, da Ciência, da Cultura. Eternamente (?) recebendo mais e mais significações, acrescento eu.
O senhor era o Professor Cândido da Agra.
Todos os níveis da realidade têm um Direito enquanto metáfora. É que em todos os níveis, todos, há regulação, coordenação e sujeição.
As normas produzem sociedades. Mas produzem também indivíduos. Quanto à segunda parte, interrogo-me: determinismo (aqui com uma clara carga negativa) ou realismo inexorável?
De Kant retiramos, entre outras, uma ideia de que em cada Pessoa reside um direito da Humanidade. (Talvez daqui, compreenda agora, o Verde no homem que Leonardo Coimbra atribuiu ao pensamento kantiano).
Dos nomes mais bonitos que já chamaram à Filosofia: o caminho de iluminação de um ponto fixo. E o que é o ponto fixo? 1) Uma lei oculta que explica a fenomenologia, a vida universal; 2) o próprio Homem como signo, como sinal que recebe significações do Direito, da Ciência, da Cultura. Eternamente (?) recebendo mais e mais significações, acrescento eu.
O senhor era o Professor Cândido da Agra.
sábado, 8 de novembro de 2008
Bravo!
Fui ontem ouvir o Ornette Coleman ao Coliseu. Cá fora estava uma noite propícia para o jazz quase-experimental de Coleman: frio, nevoeiro, gente nas ruas, luzes... um certo fog londrino, nas palavras exactas do meu pai.
Quanto ao concerto, foi curto mas bom. Muito bom! Tanto que depois de chegarmos a casa, ainda nos fomos sentar e ouvir isto:
Quanto ao concerto, foi curto mas bom. Muito bom! Tanto que depois de chegarmos a casa, ainda nos fomos sentar e ouvir isto:
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Como diz
o Saramago no Público de hoje, acredito e gosto de Obama porque "o homem tem algo de diferente".
É um pouco isso.
Viva!
É um pouco isso.
Viva!
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