Wolke 9 (2008), Andreas Dresen.
A nova Sopa de Planos do À Pala de Walsh está aí, desta feita dedicada às... flores. Demorei algum tempo a encontrar o plano adequado, mas, pessoalmente, fiquei muito satisfeito com o resultado (mais do que o meu texto, com o plano escolhido). Não deixem de ler e... cheirar. Neste jardim aqui ao lado (clicar).
O título do filme de Andreas Dresen terá baralhado muita gente: “Wolke 9 (Cloud 9, em inglês)? Porquê? Nuvem nove?!”. Para os americanos, a expressão (being on) cloud 9 significa um estado extremo de alegria ou euforia, ou seja, e em bom português, “estar nas nuvens” (tudo porque, na classificação científica das nuvens, que a há, a nona categoria corresponde à cumulonimbus, a nuvem que mais alto se consegue elevar). O que não deixa de ser curioso, uma vez que a alusão às nuvens tanto serve este sentido (de alegria), como o diametralmente oposto (alguém que vive com “nuvens na cabeça”; os dias serem “nuvens cinzentas”). Certo é que, não por acaso, neste plano, nenhuma nuvem – das últimas, as tristes e amargas – pontua o céu: o céu está limpo e a sua tonalidade ligeiramente violeta faz um dégradé lindíssimo com o vermelho exuberante da imensidão de flores que, em profundidade, nos leva até aos dois vultos que vemos, ao fundo, montados numa bicicleta. À frente vai Karl; no seu encalço, Inge, uma mulher na casa dos sessenta que, casada há mais de 30 anos com Werner, encontra em Karl uma renovada fonte de amor, de carinho e desejo. Tal como acontece com as flores, Inge desabrocha nesta Primavera (é a “Primavera da sua vida”, por oposição ao seu outonal/invernoso casamento), estação, aqui, de um vermelho primário (o das flores e o da própria Inge, que, como se costuma dizer, ganha outra cor), em sintonia com o “primitivismo” do seu amor por Karl, porque, afinal, na juventude ou na velhice, o amor faz-se de passeios de bicicleta, de piqueniques à beira-rio, de cumplicidades tolas. Na juventude ou na velhice, o amor é estar na… wolke 9.