sábado, 25 de fevereiro de 2012

crescer é um lugar estranho (2)

Quando certas atitudes dos nossos pais deixam de se nos afigurar "chatas" ou "estúpidas" e passam a ser "irrazoáveis" ou "insensatas".

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

foi quase assim

Foi quase assim, no Porto - um extasiante concerto dos Dilated People, nome cimeiro do melhor hip-hop mundial, cujo aparecimento, nos anos 2000 (sim!, 2000, parece que estão cá há séculos!), veio - para a saúde de todos nós - contrariar o mito urbano de que o hip-hop ficou nos anos 90 e que o que se faz hoje é lixo (daquele assaz nocivo, "biodesagradável" e epítetos desse género).

O clip não é do concerto dado no Hard Club, na passada terça-feira, porque, dessa noite, só existem dois e não são os melhores.

De resto, e como disse o Rakaa: "THE BACKBONE OF HIP-HOP IS... THE DJ!"



"You can't hide, you can't run", álbum 20/20 (2006), Dilated People.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mavis Gary



Ninguém vai dar por ela, mas o que Charlize Theron faz em Young Adult (não se deixem enganar pelo ominoso cartaz que o publicita), de Jason Reitman, é digno de uma grande actriz.
Todo o filme vive dela - de uma
lost soul artificial até aos ossos, mas cuja dor e solidão são tão genuínas como as que existem em todos nós. E é à volta disto que anda todo o filme: verdade e mentira, hiperbolizadas na figura de uma mulher imersa num vazio - aparentemente cool, mas só aparentemente - que a engole. Um pouco como a personagem de Stephen Dorff, em Somewhere (2010), de Sofia Coppola. Aliás, é bem engraçado imaginar como seria um encontro entre estas duas personagens...

Se há um momento alto no filme, ele ocorre, justamente, quando a verdade destrona a mentira: quando Mavis, praticamente nua, despida das suas diferentes máscaras (seios, cabelo, unhas, maquilhagem, roupa, etc., etc.), chora compulsivamente num abraço improvável com Matt (outra
lost soul, já agora). É nesse momento - em que Mavis é apenas Mavis, ela e o seu esbelto corpo em convulsão (e se é esbelto, para quê tantos artíficios?...) - que a personagem de C. Theron nos comove, num passe de mágica só ao alcance das maiores actrizes.

P.S.: É engraçado reparar como o fotograma acima se assemelha muitíssimo ao de Juliette Binoche em Copia Conforme (2010, Kiarostami), também ele um filme, não por acaso, que reflecte - ainda que noutros tons, e com a Arte como leitmotiv - sobre a verdade, a mentira e o mimetismo das relações humanas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

conditional offer



Que ironia, esta: um português, jovem - pertencente à so-called "geração à rasca -, a vencer na Alemanha de Merkel. Grande, enorme João Salaviza.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

grandes

João Salaviza e Miguel Gomes.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

- E depois disso? - perguntou.
Franziu a testa, semicerrou os olhos com ar agastado e, resignado com o terramoto interior provocado por aquilo que proferiria de seguida, respondeu:
- Depois, nada. Nada de nada. Zero, vazio. Incolor.

encontraram a Bonita Applebum







"Bonita Applebum", People's Instinctive Travels and the Paths of Rhythm (1990), A Tribe Called Quest. Vejam bem aquela singela felicidade nos 2:02-2:06.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

j e s u s



"Jesus", EP j e s u s (2011), Blu.


I didn’t even know was real
I didn’t even know was real
But it was
Love is love, up is up, hell is hell, up and up,
Love is love, love is love...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

openess


Robert Khoeler, "Great Wide Open", Sight & Sound, August 2011, pp. 44-46:


"What makes L'avventura the greatest of all films, however, is its assertion, exploration and expansion of the concept of the «open film». (...) His early documentaries as The People of the Po (...), and his earliest narrative films, such as the astonishing Story of a Love Affair (...), suggest an artist pulling against what he perceived as the constraints of neorealism towards an openess based on a heightened perception of constant change - a dynamic that was for him the fundamental quality of the post-war world.

(...)

In L'avventura, more than any film before it had ever dared, the centre will not hold. The open film is a fluid thing, pulsating, forever changing, shifting from one centre to another, not quite beginning and not quite ending (or at least beginning something new in its «ending»). Anna, the centre, vanishes, with no visual or verbal clues to trace her by, except rumours of sightings. She was in effect the glue that held the party together, having helped bring Claudia in closer to her circle of friends - and to Sandro. But with Anna's disappearance, the film alters shape in front of us; a sudden absence actually expands the film's eye. Individual shots become more extended and prolonged, the sky and land grow larger, the elements become more tangible (clouds, rain, harsher sun).
What's even more disturbing is that nothing happens - no discovery, no evidence, no detective work, finally, no memory. L'avventura is, in part, the story of how a woman is forgotten. (...)

(...)

But L'avventura marks a new kind of film, not made before, in which the story that launched the film dissolves and gives way to something else - a journey? a wandering? - that points to a host of possible readings beyond what mere narrative allows (...)".

sábado, 4 de fevereiro de 2012

chiedo asilo



O Refúgio das Crianças (1979), Marco Ferreri.

É, provavelmente, o mais belo, poético, apoteótico (fiquemo-nos por aqui, senão dá ares de elogio barato) final (1:09-) da história do Cinema.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

brincar aos avessos

Já que, nos dias que correm, se confere tanta importância e nobreza às aparências, será avisado lembrar que à mulher de César não basta parecer séria, convém também que o seja, já agora.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

res privata, res publica

Um aspecto curioso dos nossos impolutos concidadãos é o facto de serem incapazes de atirar lixo para os passadiços dos centros comerciais. É que nem coragem há para fazer escorregar o plásticozito da chiclete, ainda que astuciosamente, para o chão dessses nossos santuários modernos. Tudo estaria bem e eu não chatearia ninguém com isto se o gesto de abrir a janelinha do carro e escoar os mais sortidos detritos pela via pública não se tivesse tornado, entretanto, em elemento da paisagem urbana.
Por que raio chegámos a este tipo de absurdos, em que nos preocupamos mais com o espaço que não é de todos, que não nos mobiliza enquanto comunidade, e, ao invés, desprezamos aquilo que é património comum, aquilo que devia ser da responsabilidade colectiva, enfim, a res publica?