O meu primeiro artigo para o
À pala de Walsh já está disponível (
ali) e incide sobre a
fabulosa sequência do Fassbinder em
Martha (1973). A ideia central - uma tentativa de análise, passo a passo, dessa sequência, dela decantando a estética fascizante que ensombra todo o filme - andava na minha cabeça desde que tinha visto o filme (mais ou menos desde
aqui), tanto é que a apontei em papel. Felizmente, tive, agora, a oportunidade e a motivação para a consolidar num texto.
Martha (1973), melodrama de sabor sirkiano realizado para televisão – tivéssemos nós, em 2013, telefilmes como estes em vez de fórmulas telenovelescas adaptadas para 90 minutos… –, é um desses filmes onde o “rasto de contaminação” do nazismo aparece à superfície, por força, como habitualmente na obra de Fassbinder, do poder da metáfora. Helmut Salomon (Karlheinz Böhm) é mesmo, podemos dizê-lo, a “metáfora andante” que Fassbinder construiu, com perturbante sagacidade dramática, para representar o ideário pós-nazi e a sua “normalização” (a possível) numa sociedade democrática e tolerante. Helmut, enquanto figura metonímica desse processo normalizador, interessa-nos, pois, a partir da sua psicologia individual, isto é, da forma como se relaciona com os outros (para o caso, com a sua mulher), e na medida em que encarna os tiques que imediatamente associamos, de uma forma ou de outra, ao legado de horror nazi.