sábado, 28 de março de 2020

jovem pistoleiro meets velha raposa



Sugestões para a quarentena? Percorrer a discografia dos Young Gun Silver Fox, dupla que junta o jovem pistoleiro Andy Platts à velha raposa Shawn Lee, começando pelo seu novo (e melhor) álbum.

Canyons esta sexta-feira no ípsilon

Link: https://www.publico.pt/2020/03/27/culturaipsilon/critica/ah-bom-gosto-1909260

quinta-feira, 26 de março de 2020

govinda jai jai




(LP Radha-Krsna Nama Sankirtana, 1976, Alice Coltrane)

domingo, 22 de março de 2020

tant qu'on a la santé (en fait!)




(Tant qu'on a la santé, 1966, Pierre Étaix)

tant qu'on a la santé (en fait…)



(Tant qu'on a la santé, 1966, Pierre Étaix)

la grande illusion




(Le Soupirant, 1962, Pierre Étaix)

sábado, 21 de março de 2020

stardust



(LP Satin Doll, 2020, Sam Gendel)

home invasion



(O Anjo Nasceu, 1969, Júlio Bressane)

ípsilon - vírico e virulento

                         

 


Ontem foi sexta (embora não pareça…) e houve um grande ípsilon nas bancas (supermercados, bombas, algumas papelarias) e on-line.

Há uma crítica a “In3gah”, novo disco dos veteranos Bambino (o Mad Nigga dos Black Company, remember) e Sanryse, e faço uns pequenos apontamentos sobre discos e filmes para o dossier temático (vírus); nomeadamente, este aqui do Method Man - “Tical 2000: Judgement Day”.

Boas leituras para estes dias estranhos. Keep safe


Crítica In3gah: https://www.publico.pt/2020/03/22/culturaipsilon/critica/scrabble-moda-margem-sul-1908110

Dossier vírus: https://www.publico.pt/2020/03/20/culturaipsilon/noticia/virus-espelho-medos-1908253

domingo, 15 de março de 2020

notes to self

Wonderstruck: O Museu das Maravilhas (T. Haynes) ●
Les Misérables (2019, L. Ly) **
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De Quelques évènements sans signification (1974, M. Derkaoui) **
To Kill a Mockingbird (1962, R. Mulligan) ***
Go Get Some Rosemary (2009, irmãos Safdie) ***
Matou a família e foi ao cinema (1969, J. Bressane) ***
Beduino (J. Bressane, 2016) ***
O Mandarim (1995, J. Bressane) **
Tabu (1982, J. Bressane) ***
Garoto (2015, J. Bressane) **
O Anjo Nasceu (1969, J. Bressane) ***
Cleópatra (2007, J. Bressane) ***

Hala Madrid



há 2 semanas atrás, eu era olhado de lado nos transportes públicos de Madrid por andar de máscara. quando voltei para Portugal e apanhei o comboio Oriente-Campanhã, de lado fui olhado novamente e até zombado no metro de Lisboa por duas miúdas e o filho de uma delas. quem me dera que, por esta hora, o tolo tivesse, de facto, sido eu. de Madrid parece que só trouxe mesmo estas pérolas compradas no Rastro - são elas que ouvirei nos próximos dias, assim como os meus vizinhos, quando for hora de abrirmos as janelas e sorrirmos, gritarmos, dançarmos. diz-se demasiadas vezes que "a cultura não salva". mas salva, claro, e não é de agora. sempre salvou. na escravatura da antiguidade e dos modernos (vide "spirituals", "work songs", blues, gospel), nas quedas e nos reergueres dos impérios, nas guerras mais ou menos mundiais, na doença e nas catástrofes naturais. as palavras, o som, uma imagem, uma fotografia num absoluto momento de solidão e incerteza vivido num espaço exíguo por duas ou três pessoas são um sopro de vitalidade, e não só metaforicamente: ocupam-nos a cabeça, activam-nos o cérebro, re-conectam sensações e emoções temporariamente anestesiadas. que nunca mais se diga que a Last night a DJ saved my life dos Indeep não é uma canção de resistência

sexta-feira, 13 de março de 2020

entrevista com Júlio Bressane

 
 
 
Entrevista com Júlio Bressane no ípsilon da última sexta-feira - tendo o ciclo desta semana no Rivoli sido cancelado em virtude de The Thing, fica um rebuçado extra que não entrou no texto publicado
 
"Essa [o facto de 'Matou a Família e Foi ao Cinema' ter sido filmado em 16 milímetros e depois ampliado para 35 milímetros] é a violência do filme: a violência do grão! Foi a violência de colocar aquilo como protagonista do filme. Agora, isso, evidentemente, precisava de um certo ...tempo para que você pudesse ter esse tipo de leitura. A impropriedade do momento é tão grande que todo o mundo é capaz de dar opinião sobre qualquer coisa naquele momento. É forçado a dar uma opinião! É a força da circunstância, você é obrigado a dizer: “Este filme é bom”, “Aquela obra é ruim”… É uma espécie de câimbra mental! Alguém já disse isso com bastante propriedade: as coisas precisam de 50 anos. Depois de 50 anos, elas já não têm mais importância, e aí você pode ter uma visão mais correcta. É preciso ter a velha ideia de um velho filósofo alemão muito lido aqui na Europa [Walter Benjamin]: a questão da imagem-dialéctica. Uma imagem que você deveria ter de um ponto, de um momento muito longínquo, e que fizesse esse momento vir até ao agora. E você veria toda aquela distância percorrida, aquelas muitas constelações de tempo juntas... Isso sim, era a imagem-dialéctica, você via a nebulosa inteira. Mas não é possível isso.
 
Estou dizendo isso por causa da questão da violência e de como foi percebida no 'Matou ...' Não só percebida; o filme passou 25 anos preso na censura. Não foi nunca exibido, só conhecido. O 'O Anjo Nasceu' nunca foi exibido em público, passou na televisão uma ou outra vez... Mas são filmes que deixaram marcas profundas no nosso cinema e que foram objecto de bastante discussão. .. marcas em gramas! Com 22 anos, houve forças que trabalharam em mim que eu hoje posso dizer que eram forças involuntárias… Passaram por você, você estava ali e se misturou e transformou com elas".
 
 

terça-feira, 10 de março de 2020



"Sofilm (Sf): Travis Bickle é inspirado em si. Em quem é inspirada a personagem de Jodie Foster, a jovem prostituta maltratada por um proxeneta?
Paul Schrader (PS): Não estava baseada em nada em concreto, mas evoluiu com o tempo. Na verdade, Marty queria que Harvey Keitel fizesse o papel de chulo. E Harvey quis conhecer chulos na vida real para construir a sua interpretação e a sua personagem. Procurei por toda a Nova Iorque, fui ao Harlem e ao Bronx. Até que encontrei um bar cheio de chulos brancos, não negros, o que não era tão frequente. Estava ali, a beber, quando me fixei numa miúda, uma prostituta que, no máximo, teria uns 16 anos. Comecei a falar com ela e pensei: 'É esta, é mesmo esta, esta é a Iris'. Eu sabia que não a podia deixar ir, que tinha que falar com ela para dar vida à personagem. Levei-a ao nosso hotel e disse: 'Dou-te duzentos dólares. Ficas neste sofá e esperas por uma pessoa para tomar o pequeno-almoço amanhã de manhã. É a única coisa que te peço'. Deixei um aviso na porta do Marty a dizer que estivesse pronto às oito da manhã. A miúda esperou. Quase tudo o que a Jodie Foster faz no filme vem dela. Além disso, tinha um pequeno papel: na primeira vez que a Jodie aparece, ela está ao seu lado. É ela. Queríamos escrever-lhe um papel mais importante, mas não era de fiar e desapareceu umas noites depois. Provavelmente, hoje está morta.
(…)
Sf: Em que sentido Light Sleeper é tão pessoal para si?
PS: Na relação com o sofrimento. Sofrimento, sofrimento, sofrimento… A palavra está por todos os lados do filme. Sofremos, eu sofro, a personagem sofre. Taxi Driver é mais a ira. Creio que, juntamente com First Reformed, estes filmes formam uma boa trilogia. É a mesma história em três etapas da minha vida: um jovem zangado; um adulto que atravessa uma crise; um velho que se questiona a si mesmo. Os três esperam mudar, todos esperam mudar. Essa é a base da minha personagem fetiche: sozinha num apartamento, usando uma máscara, à espera que algo aconteça. Ao lado disto, há variações e a passagem do tempo. O meu próximo filme, The Card Counter, com Oscar Isaac, actualmente em pré-produção, será talvez o final do caminho. A estrutura é diferente, mas a personagem continua a mesma, faz as mesmas perguntas: 'Há um fim para os castigos? Se sou culpado, fui castigado o suficiente?'.
(…)
Sf: Disse já que, quando realizou os seus primeiros filmes, não era um verdadeiro cineasta. Pode esclarecer esta afirmação?
PS: Estava a aprender os rudimentos para pensar em termos visuais. (…) Para American Gigolo (…), interessei-me pelos italianos, pensei que me poderiam ajudar. (…) acima de todos, o director artístico Nando Scafiotti, que tinha feito Il Conformista. Ele ensinou-me a ser cineasta. Estava à frente de todo o visual do filme e eu observei como ele trabalhava. Foi uma inspiração total para mim. A decoração, os lugares da rodagem, os adereços: era ele que decidia tudo. Aquela foi a minha escola. Quando estava com ele em Nova Orleães, fomos um dia a sua casa. Aí, a surpresa: todos os móveis estavam cobertos com lençóis. Perguntei-lhe o porquê e ele respondeu: 'Repara, vou ter que viver aqui à força. A sério que queres que viva rodeado por estas mobílias infames?'. A personagem de Oscar Isaac em The Card Counter fará o mesmo em todos os hotéis por que passa, sem nunca o explicar. Essa é a minha homenagem a Nando Scarfiotti".

(Entrevista por Axel Cadieux in Sofilm, Fevereiro 2020, ed. espanhola; trad. livre)

segunda-feira, 9 de março de 2020

2010-2019

 
 
Os filmes da década para o À pala de Walsh estão aí para freguês ver. Os meus 10 (sem esquecer mais uns quantos cum laude):
 
 
1. La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 (2013), Abdellatif Kechiche
2. Die andere Heimat – Chronik einer Sehnsucht (2013), Edgar Reitz
3. Boyhood (2014), Richard Linklater
4. Mektoub, My Love: Canto Uno (2017), Abdellatif Kechiche
5. Melancholia (2011), Lars von Trier
6. Copie conforme (2010), Abbas Kiarostami
7. Un amour de jeunesse (2011), Mia Hansen-Løve
8. Nymphomaniac (2013), Lars von Trier
9. Film Socialisme (2010), Jean-Luc Godard
10. Dragonfly Eyes (2017), Xu Bing
 
 
Outros: Road to Nowhere, Ida, L’Appolonide, Victoria, O Filho de Saul, Tournee (M. Amalric), Uma Separação, Para lá das Colinas, Leviatã (Zvyagintsev) Oslo 31 de Agosto, Love (G. Noé), Arrival, Lumière! L’aventure commence, Shame (Steve McQueen), L’amant d’un jour, Another Year (Mike Leigh), Moonlight, Jeune & Jolie, Once upon a time in… Hollywood, Joker, The Tree of Life, Bacurau, Barbara, Tabu, First Reformed, Pater (A. Cavalier), Paterson, Manchester by the Sea, Rester Vertical, L’Inconnu du Lac, Somewhere (S Coppola), 4:44 Last Day on Earth, Her, Montanha (J. Salaviza), Clouds of Sils Maria, Eden (Mia Hansen Love), Timbuktu, The Lobster, Julieta (Almodovar), Aloys (Tobias Nölle), Dom Juan & Sganarelle (V. Macaigne), Dois dias, Uma Noite (irmãos Dardenne), 45 Anos (A. Waigh), Get Out, Phantom Thread, First Reformed, Call Me By Your Name, Post Tenebras Lux, Force Majeure (Östlund), Io sono l’amore (Guadagnino), Até Ver a Luz, China – Um Toque de Pecado, Bai ri yan huo (Carvão Negro, Gelo Fino, de Yi’nan Diao).
 
 
(A Vida Invisível, 2019, Karim Aïnouz)
 
 
"Aïnouz sublinha, uma e outra vez, a possibilidade de Eurídice e sua irmã, Guida, serem uma e uma só pessoa. (…) Esta hipótese, de uma união quebrada em dois retratos do feminino encontra justificativo no posicionamento do brinco que cada uma carrega: Guida traz o pendente no lóbulo da orelha enquanto Eurídice o carrega num fio, junto ao peito. E aí revela-se a complementaridade que as liga e repele: a mais cerebral leva o brinco junto ao peito, a mais emotiva trá-lo junto à cabeça; e aquela que sempre admirou os dotes musicais da irmã tem-no junto ao ouvido, enquanto aquela que sempre se deliciou com as descrições do encontros carnais da outra o traz junto às mamas. É nesse binómio, entre razão e tesão, que o realizador, finalmente, se liberta da extrema contenção que vinha caracterizando os seus últimos filmes (…)".
 

quinta-feira, 5 de março de 2020

O meu desejo está no lugar para onde disparo

“No fim da Primeira Guerra Mundial, quando Griffith chega à frente de combate francesa para rodar o seu filme de propaganda, a fase arcaica da guerra terminara havia muito tempo, desde 1914, com a Batalha do Marne, o último combate romântico. Griffith deparou-se com um conflito que se tornava estático e onde, para milhões de homens, a acção principal consistia em fixar-se nos territórios, camuflando-se durante meses (...) entre a proliferação impressionante de cemitérios e valas comuns. (...)
 
A olho nu, o imenso campo de batalha que tinha diante de si parecia não ser formado por nada, nenhuma árvore ou vegetação, nem água, nem sequer terra, esvaziada do corpo-a-corpo; a dupla vítima-homicida perdera-se de vista (...). O famoso lema ‘não passarão’ ganha outro sentido, já que, efectivamente, ninguém se desloca em direcção nenhuma. Muitos ex-combatentes de 1914 disseram-me que podem ter matado o inimigo, mas nunca souberam em quem dispararam, porque a partir dessa guerra outros eram encarregados de olhar no seu lugar. Esta região abstracta, que Guillaume Apollinaire descreveu com precisão como o lugar de um desejo cego e sem direcção, só era reconhecida pelos soldados graças à trajectória dos seus tiros (‘O meu desejo está no lugar para onde disparo’) - tensão telescópica para uma aproximação imaginária, uma formalização do parceiro/adversário desaparecido antes mesmo do seu provável despedaçamento.
 
No desfasamento inesperado da visão indirecta, o soldado tem menos a sensação de ser destruído que desrealizado, desmaterializado, de perder bruscamente todo o referencial sensível em prol de uma exacerbação dos sinais visíveis. Permanentemente vigiado pelo adversário, o soldado torna-se como esse actor de cinema de que fala Luigi Pirandello, exilado da cena e de si próprio, contentando-se em actuar diante da pequena máquina, que irá depois actuar diante do público projectando a sua sombra (...)”.
 
(Guerra e Cinema, Paul Virilio)