sexta-feira, 30 de agosto de 2013

super rich kids


O Gangue de Hollywood (2013), Sofia Coppola.

O melhor do filme da Sofia Coppola é a selecção musical dotada de um notável significado intradiegético, de que é o melhor exemplo o Frank Ocean que fecha o filme: Super rich kids with nothing but fake friends (outra grandiloquente passagem é aquela em que se ouve o Kanye West a berrar, na cena do fotograma acima, Stop trippin' I'm trippin off the pow[d]er / Till then, fuck that the world's ours / 21st Century Schizoid Man).

Quanto ao resto, trata-se de um retrato, a princípio prometedor, de uma juventude que descamba numa reportagem inofensiva, distante e... desinteressante - vale, a este propósito, o que escreveu o Jorge Leitão Ramos: como podia deixar de ser inofensivo se foi a própria Paris Hilton a ceder a sua casa na vida real para fazer o filme?...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

isso do "realismo"


Até Ver a Luz (2013), Basil da Cunha.


Em 2013, encontramos precisamente o inverso do filme de Canijo: Até Ver a Luz é um olhar nu e honesto sobre a mesma realidade (a marginalidade do ghetto), mas agora sem bandeiras nem etiquetas - sem estereótipos, portanto (curiosíssimo notar como o combate aos estereótipos pode descambar no seu reforço...). Acresce o que de poético - e é muito! - o novo filme de Basil da Cunha transporta consigo (quase apetece falar, não fossemos traídos pelo conceptualismo, em "realismo poético"...), coisa perfeitamente ausente de Sangue do Meu Sangue, que, reclamando a bandeira do realismo, resvala para uma pornografia (que é ficção, que é simulacro, para chamar Jean Baudrillad) do real (alguém falou em "pornografia da tortura" para se referir a Só Deus Perdoa, pois permitam-me agora a adaptação).

Filme belíssimo para ver na noite que é a sala de cinema, nessa penumbra por onde (sobre)vivem os Sombras de todos os dias.

domingo, 25 de agosto de 2013

Crítica - "Frankie Diluvio Vol 1"



Novamente com mais tempo, voltei a escrever sobre música. A minha crítica sobre o primeiro disco de originais de Blasph, Frankie Diluvio Vol. 1, acabadinho de sair, já está disponível na RDB, aqui ao lado.

“Frankie Diluvio” notabiliza-se, sobretudo, para além da mestria na punchline (há coisas que só mesmo Blasph sabe cuspir com obscenidade e classe em doses iguais), na recuperação, em termos sónicos, do G-Funk com que Dr. Dre, nos idos de 90, revolucionou o hip-hop a partir da California, dando à luz a sonoridade com selo west coast (e que Dâm-Funk tem vindo a reciclar com o seu sedutor electro-boogie): samplagem do funk endiabrado tocado por gente como os Parliament e os Funkadelic (igualmente audíveis nos álbuns de alguns dos seu mais famosos membros, com George Clinton e Bootsy Collins à cabeça) acompanhada de baixos a rebentar pelas costuras (fat bass, não há melhor forma de o dizer) e, como pedra de toque, finas linhas melódicas tecidas pelos então inovadores – ao menos no mundo do hip-hop em sentido estrito (a bem dizer, os Kraftwerk já lhes tinham dado bom uso antes) – sintetizadores (a que Timbaland e companhia deu novos contornos, quase sempre de mau gosto, no hip-hop da primeira década dos anos 2000).

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

histoire(s) du cinéma

Sabemos que andamos a ver filmes a mais quando, para avaliar se determinada conversa ou situação nos causaria, a nós e aos restantes presentes, embaraço ou desconforto, imaginamos a cena - o que é dito, quem o diz, quem está presente para além dos interlocutores e suas reacções - num filme. No meu caso, situei a cena - uma conversa "adulta" com a minha Mãe sobre um assunto que abananou a minha meninice dos dez anos - no Verão do Skylab, da Delpy (um filme de que nem gostei particularmente, mas não interessa). Supus que toda a gente à mesa (olha o filme a meter-se, olha) se riria entre umas copadas de vinho - e fiquei mais aliviado.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

those were times of splendor in the grass


Esplendor na Relva (1961), Elia Kazan.

Sim, é aquela coisa toda do "cinema poder mais que a vida".

sábado, 10 de agosto de 2013

O que é que não ardeu em mim?



À Flor do Mar (1986), João César Monteiro.

"Um destes dias, vou ter de arranjar coragem para esgravatar nos escombros. O que é que não ardeu em mim? Essa é a questão essencial. Todos os sobreviventes têm de lhe dar resposta". 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

contemporary

Um senhor chamado Giorgio Agamben resume, em parcas e cristalinas linhas, uma série de coisas que eu penso sobre os tempos que correm:

"For if the speed of change is increasingly yet again, we will constantly be told that only people at the forefront of those technological changes can really comment on them. I would like to refuse that idea by quoting the Italian philosopher Giorgio Agamben: «Those who coincide too well with the epoch, those who are perfectly tied to it in very respect, are not contemporaries precisely because they do not manage to see it... The ones who can call themselves contemporary are only those who do not allow themselves to be blinded»".

Nick James, "Children of the evolution" (Editorial), in Sight & Sound, Volume 23, Issue 8, BFI, August 2013, p. 5.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mãe, meti-me nos modelos

Num inocente excurso pelo mundo dos modelos do Blogger, fiz esta borrada com as minhas mãozinhas: mudei, sem querer, o modelo do blog e agora não consigo voltar atrás (ao modelo original, idêntico, por ex., a este, que não encontro nos actualmente oferecidos pelo Blogger). Alguém ajuda? (o meu email no perfil pessoal, à direita)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

telepatia



"Telepatia" (instrumental), Sam the Kid (2009, não editado).

Grande ingenuidade, a de acreditar que a comunicação em pensamento, cega e silenciosa, é o último reduto da compreensão (mútua). Se não é precisamente no pensamento que começam todas as desavenças...

agora em movimento



Vai e Vem (2003), João César Monteiro.

É uma cena - além do filme (o último) propriamente dito - com espírito de síntese da obra de J. C. Monteiro: a bizarrice, o humor, a erudição, a ternura, a melancolia - enfim, a mestria dos diálogos, de uma fineza absoluta. Ah, e, visualmente, podem esquecer aquelas cenas "tão lindas" do Woody Allen com a Diane Keaton junto ao rio. Sim, esqueçam Nova Iorque. Isto é Lisboa, é o Tejo, "é o atavismo" mais belo do mundo.

sábado, 3 de agosto de 2013

fica-se português


Vai e Vem (2003), João César Monteiro.

Não ouvia uma frase tão acertada - tão franca, tão triste, tão bela - há uma data de tempo.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

killing me softly


O Desconhecido do Norte Expresso (1951), Alfred Hitchcock.