quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Walsh #18 Crítica "O Sacrifício" (Noutras Salas)



Corri esse supremo risco que é o de escrever sobre os filmes do Tarkovsky e o resultado está aí, na minha nova crítica para o À pala de Walsh, desta feita em torno de "O Sacrifício" (1986), o último filme do grande realizador russo. Há muito tempo que queria escrever alguma coisa sobre os seus filmes e a verdade é que, pese embora o pouco tempo de que dispus para o efeito, me deu muito gozo poder dedicar-me a pensar sobre este filme e, inevitavelmente, a revisitar os anteriores. Pessoalmente, "O Sacrifício" estimula-me, especialmente, pelo convite que faz à reflexão sobre territórios que nem sempre tenho tido oportunidade de explorar em textos sobre cinema (e, talvez, de explorar no geral...): a espiritualidade, a transcendência, Deus.

O texto podem-no ler aqui (clicar); o filme poderão vê-lo amanhã, no Cineclube Ao Norte (Viana do Castelo), 21h45, pela módica quantia de zero euros.


Alexander deverá fazer amor com Maria (“Maria” – quem mais? –, qual medium divino), revelação que lhe é feita por Otto (um carteiro que traz notícias não é muito diferente, afinal, de um… “anjo mensageiro” gabrielesco) – embora – e não conseguimos ficar em paz com  isto…. – do discurso de Otto não seja absolutamente linear se essa salvação se traduz no fim da guerra e na continuação da vida humana ou, simplesmente, no fim de tudo de uma vez só, para evitar mais sofrimentos. Encare-se ou não com razoabilidade a condição revelada por Otto a Alexander (a plausibilidade nunca foi, de resto, uma preocupação para a espiritualidade, antes sendo o implausível justamente condição e meio de legitimação da sua força e espectacularidade), o certo é que melhor ilustrativo do desligamento espiritual dos homens não podia existir do que a incredulidade com que Alexander acolhe a revelação de Otto – no fundo, e extremando o ponto de vista para nos fazermos entender: se, um dia, o mundo estivesse prestes a acabar e nos revelassem que aquele era o único modo de evitar o fim, cederíamos ou não na sua execução? Teríamos ?

(Excerto)



please




"Please Forgive My Heart", álbum The Bravest Man in the Universe (2012). Bobby Womack.


sábado, 22 de novembro de 2014

l'art d'aimer

Num livro emprestado e esquecido, encontro um bilhete de cinema perdido. L'art d'aimer, o título do filme. Muito (ou nada) ironicamente, nunca cheguei a ir ver o filme. A tira de papel que é suposto ser cortada à entrada está intacta. Por curiosidade, dou uma olhadela no que se escreveu sobre o filme e vejo que não perdi nada. E é isso: não perdi nada.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Árvores, Pássaros e Almofadas (2)



"Gestos cinematográficos", álbum Árvores, Pássaros e Almofadas (2014). Minus.

O aguardadíssimo novo álbum de Minus (clicar) será apresentado este sábado, dia 22 Novembro, no Plano B. Como aperitivo, fica o teledisco de "Gestos cinematográficos", o segundo single (depois de "Marionetas") colocado a rodar.

Sobre "Gestos cinematogáficos" e respectivo teledisco haveria um monte de coisas para dizer e efabular (começando no "cinema" que se "ouve" na letra, passando pelo cinema mudo do teledisco e, sobretudo, de quem o "interpreta", terminando, enfim, no cinema, i.e., na representação, que é a vida/o amor e vice-versa). Guardarei-me para a crítica que escreverei ao álbum, que em breve publicarei e divulgarei por aqui.

sábado, 15 de novembro de 2014

"Conversas à Pala": Porto Post Doc, 19 Novembro, 21h, Cinema Passos Manuel


Cartaz: Lisa Marques

A próxima  "Conversa à Pala" prossegue já no próximo dia 19 de Novembro (quarta-feira), com encontro marcado para as 21h, no Cinema Passos Manuel (antes da exibição do filme "Uivo", de Eduardo Morais, pelas 22h). Os meus colegas João Araújo e Sabrina Marques terão como convidado Dario Oliveira (Director do Porto Post Doc e Co-Director do Curtas Vila do Conde), numa conversa que se centrará no novíssismo Festival Porto Post Doc (apesar das sessões avulsas que vêm sido realizadas no Passos Manuel), que promete agitar com a cidade e com a cinefilia. A não perder.

Entrada gratuita.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

I call your name




"I call your name", álbum Switch II (1979). Switch.


I used to think about immature things
You know like, do you love me? Do you want me?
Are you gonna call me like you said you would?
Is this really your real phone number?

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Conversas à Pala no Porto #1 Satyajit Ray



Já está disponível on-line o vídeo da primeira Conversa à Pala no Porto, no Teatro Municipal do Campo Alegre, dedicada ao cinema do realizador Satyajit Ray. Vejam tudo aqui (clicar).

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

uma noite do caraças



Há muito tempo que oiço, leio e escrevo sobre hip-hop (é só dar uma vista de olhos rápidas pela barra lateral do blog). Há muito tempo, também, que percebi que o moralismo é, quase sempre, um mau ângulo de análise das coisas - ao menos como princípio de análise. Nunca embarquei, por isso, na onda de que o hip-hop "pedagógico", o "verdadeiro" hip-hop (a "verdade" nas coisas da arte vale sempre o mesmo, independentemente da vertente ou corrente: nada ou perto disso), o hip-hop que "ensinava valores" morreu. Não porque não acredite que esse tipo de hip-hop existe - porque existe (e não morreu!) -, mas porque sempre rejeitei ortodoxias e purismos que, como se sabe, à mínima fragilidade, sucumbem, por incoerência, irrealismo ou, simplesmente, estupidez. O hip-hop, como qualquer outro género músical, como qualquer arte, pode e deve ser o que quiser ser, melhor dizendo, o que os seus intépretes quiserem fazer dele. Sem que isso isso signifique que tudo o que daí resulte seja bom e sem que me impeça de ter gostos e visões orientadas do hip-hop que creio ser o que, hoje e, especialmente, hoje visto daqui a 50 anos, é o mais interessante, talentoso, audacioso. Enfim, que, de alguma forma, contribua para a formação de certos "cânones", que, não sendo, decisivos, não deixam de ter o seu peso.

Tendo em conta tudo isto, e apesar de tudo isto, e também porque já levo algum tempo a escrever e a pensar sobre um género que acompanho quase desde que me lembro de gostar de música, chegou o momento de dizer "alto!" e traçar uma linha divisória: uma linha clara, linear e sem relativismos de conveniência.

O videoclip de "Hell Of A Night" (clicar), faixa de Oxymoron (que, de resto, rodou durante algum tempo nos meus ouvidos, mas que é significatimente inferior aos dois álbuns anteriores do senhor que a seguir enuncio), álbum lançado este ano por Schoolboy Q (elemento da Black Hippy, crew de Los Angeles editada pela Top Dawg Entertainment), é um apelo gratuito, grave e agressivíssimo ao consumo de drogas - e não estamos a falar de drogas leves. Estamos a falar de cocaínas, ectasys, cristais, anfetaminas, enfim, you name it - tudo o que conseguirmos entrever naquela recambolesca pasta, e que, de uma só assentada, é depositado numa batedora, donde sai, voilà, um super cocktail tóxico de fácil e imediata ingestão, e que Schoolboy Q não dispensa de tomar bem nos nossos olhos (para não haver dúvidas). Isto já seria mau, mas, durante o videoclip, Schoolboy Q insiste - talvez pensando que nós ainda não percebemos completamente a ideia - em dar-nos a ver como uma "noite do caraças" ("hell of a night") passa pelo consumo de todas aquelas substâncias uma por uma (além do coktail!). O modo sedutor, fascinante - em registo publicitário, como é típico de 80% dos videoclips do hip-hop (e não só) contemporâneo, com a montagem de planos muito apressada a fazer jus ao "You Only Live Once", adágio da adolescência facebookiana (Horácio, carpe diem, voltem!) - com que tudo é filmado não tem outro fim senão o de enaltecer, engrandecer, glorificar a solução para uma "noite do caraças": drogas e mais drogas. Estou completamente seguro de que não é preciso ser um maluquinho do tipo "War on drugs" - que não é o meu caso - para ver o que eu vi neste videoclip.

Mas se tudo ficasse por aqui, ainda estávamos só no campo das teorias chatas. Contudo, da mesma forma que eu, enquanto adolescente, me quis vestir como os Mind da Gap ou os Gangstarr, grafitar paredes, dançar e ser desinibido como os Pharcyde eram no videoclip da "Drop", os miúdos de hoje irão querer ter "noites do caraças" (quem é que não quer, afinal?) como aquela que podem ver (e tornar a ver, aguçando o apetite) no videoclip de "Hell Of A Night". Para isso, saberão, fascinados com o psicadelismo sexy do que viram, que tudo do que precisarão - basta isso! - é de uma mala como a que lhes Schoolboy Q lhes mostrou (que cita a mala do Fear and Loathing in Las Vegas do Terry Gilliam, mas, aí, a trip era outra e bem mais interessante). Try this at home, diz-lhes, despreocupadamente, o videoclip, depois de exibir um tipo, em notória hell of a trip, a remover um órgão de outro à facada. Hell of a night.

Não vale a pena vir com o velho do truque de "ah, mas o que ele está a fazer, na verdade, é criticar" ou citar a cruz luminosa que se vê no meio da festa como sinal de redenção e, tão artisticamente conveniente, do tal "oxímoro" que dá título ao álbum. Bullshit. Não vale a pena contra-argumentar, também, com os video-jogos violentos, os filmes, etc.: isso só prova a desorientação de quem, pretendendo-se de anti-moralista, rejeita compreender e enfrentar as grandes questões, preferindo refugiar-se no confortável relativismo do "que se lixe, já existe tanta porcaria, porque é que agora vêm falar nisto?". Que se lixe, sim, porque este texto não vai (nem tem tal pretensão!) contribuir em e para nada, mas, pelo menos, enquanto ouvinte e amante de uma cultura que partilhei com tantos amigos (alguns deles inclusivamente músicos de hip-hop) e que me esforço por divulgar e transmitir aos mais novos que me são próximos, tenho que dizer que música desta não honra o hip-hop e, sobretudo, incentiva comportamentos que, se é certo que acontecem todos os dias (e faz parte da vida que aconteçam!), não têm de ser estimulados desta forma agressiva, luxuriosa e estupidificante.

E o Kanye West que me permita a adulteração: I'm NOT just sayin'.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

"Alex from Target"



Leio esta notícia e só me lembro do Benigni do To Rome with Love, do Woody Allen. Já não é só aquela coisa da ficção virar realidade; o próprio real é uma ficção. Entendamo-nos: Alex - não o rapaz, coitado, mas o fenómeno-Alex - é, em si, uma ficção, algo que não existe, um não-acontecimento. Alex é... nada. É talvez esse o destino de todos os processos de decadência por que encarreira uma civilização: o nada.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

claro que está tudo bem

Dois casais de idade encontram-se na sala de cinema. São afáveis e têm gosto em se verem, o que me toca momentaneamente. Quando uma das mulheres lhes pergunta se está tudo bem, a outra responde toda despachada: "Claro que está tudo bem, estamos no cinema!". Santa tautologia.