Ho Ho Ho... Muito para ler no Ípsilon da última sexta-feira. Merry Funky Xmas
1. Donda (K. West)
2. Music (Benny Sings)
3. Pink Noise (Laura Mvula)
4. Smiling With No Teeth (Genesis Owusu)
5. Unlearning Vol. 1 (Evidence)
6. Independência (Paulo Flores)
7. TAO (Shad)
8. Soulful Distance (Devin The Dude)
9. Seven (Cameron Graves)
10. If It's Any Constellation (Issy Wood)
Outros (sem ordem): Small Things (Nick Hakim e Roy Nathanson), We Are (Jon Batiste), Daddy's Home (St. Vincent), El Madrileño (C. Tangana), Prosthetic Boombox (Cola Boyy), American Lullaby (Dean Friedman), Open Arms to Open Us (Ben Lamar Gay), In Plain Sight (Neal Francis), An Evening With Silk Sonic (Silk Sonic), Drones (Terrace Martin), BLK VINTAGE (BLK ODYSSY), Colourgrade (Tirzah), Shelley FKA DRAM (Shelley), Love Suite (Contour), Jam & Lewis: Volume One (Jimmy Jam e Terry Lewis), Purest Form (James Francies), Still Sucks (Limp Bizkit), Somewhere Different (Brandee Younger), Sgt Culpepper (Joel Culpepper), Beat Tape II (Benny Sings), Heaux Tales (Jazmine Sullivan), Son (Rosie Lowe e Duval Timothy), Buscando La Vida (Henry Cole & Villa Locura), Talk Memory (BadBadNotGood), Batidas, Rimas e Filmes (Radiola Santa Rosa), VWETO III (Georgia Anne Muldrow), Desafío Candente (Gustavo Cortiñas), Submarine (Wesley Joseph), Intra-I (Theon Cross), Primordial Waters (Jamael Dean), Roseville (Har Mar Superstar), Magic Mirror (Pearl Charles), Black Metal 2 (Dean Blunt), Going Normal (Matt Martians), Big Sleepover (Big Boi), Furto (Vasconcelos Sentimento)
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Ao contrário das salas de cinema, que, depois de uma longa modorra, conheceram entusiasmante recta final (a grande banda-sonora do ano pertence a A Noite Passada em Soho), 2021 testemunhou um trajecto francamente descendente no que aos discos diz respeito. Sintomaticamente, a esmagadora maioria dos discos capaz de nos roubar um momento de júbilo foi lançada até Setembro/Outubro — por exemplo, Donda. Nem uma pandemia deita abaixo Kanye West, e não falamos apenas na música — em tempo de covid, o americano passou a auto-encenar-se com máscaras grotescas, esquizóides, fascinantes (as fotografias de West captadas por transeuntes na rua, lojas ou aeroportos são do mais espectacular que a pandemia nos deixará em imagens). Algum tempo depois, aparecia com a ex-mas-afinal-ainda-mulher Kim Kardashian nas passadeiras vermelhas, os dois tapados de preto dos pés à cabeça pela mesma altura em que os talibãs recapturavam o Afeganistão e o mundo se apavorava, como se fosse em sua casa (uma home invasion pela TV…), com o regresso das burqas. Um iconoclasta permanentemente reconfigurando a cultura popular cuja longa (e rara) entrevista no programa Drink Champs, em todo o seu excesso (e humor), veremos nos próximos anos samplada por meio mundo.
Uma das grandes revelações do ano (a outra é Genesis Owusu) vem de Birmingham (terra dos Duran Duran, The Streets, Dexys Midnight Runners…). Leia-se revelação cum grano salis, na medida em que Laura Mvula (inglesa de pai jamaicano e mãe de São Cristóvão, no Caribe), com formação clássica em composição, já foi em tempos a next big thing da música inglesa: em 2013, assinava pela RCA (EP She), cujo êxito lhe valeria Sing To The Moon (2013) e The Dreaming Room (2017), ambos com o selo da Sony. E ainda houve arte e engenho para compor para Antony & Cleopatra, apresentada pela Royal Shakespeare Company. Até que… Até que, com apenas sete linhas de um e-mail, ficou a saber que a Sony agradecia os seus préstimos, mas que, enfim, “best regards”, era chegada a hora de zarpar. A inglesa abanou, mas não caiu, e Pink Noise, agora com o beneplácito da Atlantic, não só é o seu melhor disco (como um filho de Michael Jackson e Grace Jones) como se constitui num retumbante tour de force de uma cantora de raiz jazz e gospel por território eighties.
Após dois anos manifestamente vigorosos, o hip-hop (inclusivamente o português) atravessou um período de serviços mínimos que, com umas quantas excepções, trabalho notável algum gerou (obviamente que algumas publicações, especialistas em Política e Contabilidade das Visualizações, se apressam as incluir as patetadas trap nas suas escolhas, mas isso é outra história). Uma delas é Unlearning Vol. 1, do também fotógrafo Evidence. O californiano, passe o eufemismo, não tem tido uma vida fácil (em pouco tempo morreram-lhe a mãe e, logo de seguida, a namorada e mãe do seu filho ainda no berço), e o primeiro tomo desta aparente nova série prossegue o seu introspectivo Budō, um des-nascer em sotto voce, profundo, penetrante (e que nos deve fazer reavaliar se a estética drumless beat, hoje dominante no underground nova-iorquino, não teve origem, afinal, em Los Angeles…). Outros trabalhos para guardar: BLK VINTAGE (BLK ODYSSY), Small Things (Nick Hakim e Roy Nathanson), Colourgrade (Tirzah), Shaitan (Roke), Shelley FKA DRAM (Shelley), American Lullaby (Dean Friedman), O Homem Que Viu O Sol (Smoke Hills), All the Brilliant Things (Skyzoo).
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